“Vim, tanta areia andei

Da Lua cheia, eu sei

Uma saudade imensa…” Andança – Beth Carvalho

Hoje, 2 de dezembro, comemoramos o Dia do Samba. A educadora Tamiris Ribeiro Santos com o grupo Respeito de 10 a 15 anos –  manhã, produziram uma curta metragem com conteúdos extraordinários  do samba brasileiro, neste mostra a raiz e a originalidade da dança.

“ Elevador é quase um templo

Exemplo pra minar teu sono

Sai desse compromisso

Não vai no de serviço

Se o social tem dono, não vai…” Identidade Jorge Aragão

 

Etimologia e definição

“Batuque”, pintura de 1835 do alemão Johann Moritz Rugendas.[50]

Não existe consenso entre estudiosos sobre a etimologia do termo “samba”. Uma corrente tradicionalista defende que o étimo seja oriundo das línguas bantas.[51] Segundo Nei Lopes e Luiz Antônio Simas, precisamente dos verbos semba (em quimbundo, “rejeitar, separar” ou “agradar, encantar, galantear”),[52] sàmba (em quicongo, um tipo de dança em que “um dançarino bate contra o peito de outro”)[15] e samba (em côkwe, “brincar, cabriolar”).[15] Já na América espanhola do passado, os termos samba e semba designavam na região do rio da Prata o candombe, uma dança popular com atabaques, enquanto zamba, na Bolívia, era uma antiga dança das festas de coroação dos reis negros.[53]

Acredita-se que o primeiro uso da palavra “samba” na imprensa brasileira tenha sido no Diário de Pernambuco em 1830.[54] O termo foi documentado na publicação em uma nota contrária ao envio de soldados para o interior pernambucano como medida disciplinar, pois lá poderiam ficar ociosos e se entreter com “pescarias de currais [armadilhas de apanhar peixe], e trepações de coqueiros, em cujos passatempos será recebida com agrado a viola, e o samba”.[54] Outra aparição antiga foi registrada no jornal humorístico recifense O Carapuceiro de 1838.[55] Já no Rio de Janeiro, a palavra só passou a ser conhecida ao final do século XIX, quando era ligada aos festejos rurais, ao universo do negro e ao “norte” do país, ou seja, o Nordeste brasileiro.[56]

Por muitos anos da história colonial e imperial do Brasil, os termos “batuque” ou “samba” foram empregados à qualquer manifestação de origem africana que reunisse danças (principalmente a umbigada), cantos e usos de instrumentos dos negros.[15] Ao final do século XIX, “samba” estava presente na língua portuguesa, designando um “bailado popular” ou diferentes tipos de danças populares (xiba, fandangocateretécandomblébaiano) que assumiam características próprias em cada parte do país, não só pela diversidade das etnias da diáspora africana, como pela peculiaridade de cada região em que foram assentadas.[15] No século XX, o termo foi ganhando novas acepções, como para uma “dança de roda semelhante ao batuque” e um “gênero de canção popular”.[16]

O primeiro uso da palavra em contexto musical teria sido para “Em casa de baiana”, de 1913, registrada como “samba de partido-alto”.[57][58] Depois, no ano seguinte, para as obras “A viola está magoada”[58][59] e “Moleque vagabundo”.[60][61] E, em 1916, para o célebre “Pelo telefone”, lançado como “samba carnavalesco”[62][63] e tido como marco fundador do samba urbano carioca.[5][64]

Raízes

Hilário Jovino fundou o primeiro rancho do carnaval carioca.

Tradição rural

Durante a Missão de Pesquisas Folclóricas no Nordeste de 1938, o escritor Mário de Andrade notou que, em meio rural, o termo “samba” associava-se ao evento onde a dança se realizava, à forma de se dançar o samba e à música executada para a dança.[65] O samba urbano carioca foi influenciado por diversas tradições associadas ao universo de comunidades rurais pelo Brasil.[8] A folclorista Oneida Alvarenga foi a primeira estudiosa a listar danças populares primitivas do tipo: o coco, o tambor de crioula, o lundu, a chula ou o fandango, o baiano, o cateretê, o quimbere, o mbeque, o caxambu e a xiba.[66] A essa lista, Jorge Sabino e Raul Lody acrescentaram: o samba de coco e a sambada (chamados também de coco de roda), o samba de matuto, o samba de caboclo e o jongo.[67]

Uma das formas de dança mais importantes na constituição da coreografia do samba urbano carioca,[68] o samba de roda praticado no Recôncavo baiano era tipicamente dançado ao ar livre por dançante solista, enquanto outros participantes da roda se encarregavam do canto – alternados em partes solo e coro[6] – e da execução dos instrumentos da dança.[68] Os três passos básicos do samba de roda baiano eram o corta-a-jaca, o separa-o-visgo e o apanha-o-bago, além também do miudinho dançado exclusivamente por mulheres.[6] Em suas pesquisas sobre o samba baiano, Roberto Mendes e Waldomiro Junior examinaram que alguns elementos de outras culturas, como o pandeiro árabe e a viola portuguesa, foram aos poucos incorporados ao canto e ao ritmo dos batuques africanos, cujas variantes mais conhecidas eram o samba corrido e o samba chulado.[69]

No estado de São Paulo, desenvolveu-se outra modalidade primitiva de samba rural conhecida, praticada basicamente em cidades ao longo do rio Tietê – a partir da capital paulista, até o seu curso médio –[70] e tradicionalmente dividida entre samba de bumbo – com apenas instrumentos de percussão, tendo como regente o bumbo[70] – e o batuque de umbigada – com o tambu, o quinjengue e o guaiá.[71]

Constituído essencialmente por duas partes (coro e solo) geralmente feitas de improviso, o partido-alto era – e ainda é – a variante cantada mais tradicional do samba rural fluminense.[72] Originário da região metropolitana do Rio de Janeiro, é a junção, de acordo com Lopes e Simas, do samba de roda baiano com a cantoria do calango, assim como uma espécie de transição entre o samba rural e o que seria desenvolvido no ambiente urbano carioca a partir do século XX.[72]

Raízes do carnaval carioca

Durante o Brasil colonial, as festas públicas católicas costumavam atrair todos os segmentos sociais, inclusive negros e escravos, que aproveitavam as celebrações para fazer suas próprias manifestações, como os folguedos de coroação dos reis congos e os cucumbis (folguedo banto) no Rio de Janeiro.[73] Aos poucos, essas celebrações exclusivas do povo negro foram sendo desvinculadas das cerimônias do catolicismo e mudadas para o período do carnaval.[74]

A partir dos cucumbis, surgiram os cordões cariocas, que apresentavam elementos de brasilidade – como negros fantasiados de indígenas.[74] No final do século XIX, por iniciativa do pernambucano Hilário Jovino, nasceram os ranchos de reis (posteriormente conhecidos como ranchos carnavalescos).[75] Um dos ranchos mais importantes do carnaval carioca foi o Ameno Resedá.[76] Criado em 1907, o autointitulado “rancho-escola” tornou-se um modelo para apresentações carnavalescas em cortejo e para as futuras escolas de samba nascidas nos morros e subúrbios do Rio.[76]

https://pt.wikipedia.org/wiki/Samba