Em março de 2020, por conta da pandemia do coronavírus, tivemos de fechar o atendimento em nossa unidade Sociassistencial, assim como todas as atividades que realizávamos em conjunto com nossas crianças, adolescentes, jovens e adultos. Impelidos diante dessa nova situação, somos chamados a realizar algo, mesmo com as portas fechadas.

E assim, com a colaboração generosa das Irmãs do Educandário, dos colaboradores e pessoas de boa-fé, podemos garantir ao menos o básico para tantos irmãos e irmãs, nesta comunidade alegre e fortalecida em esperanças de um dia melhor.

As ações realizadas no Educandário, nas últimas semanas, são diversificadas, buscando auxiliar às necessidades das famílias atendidas em nosso espaço. As Irmãs preparam cestas de alimentos e promoveram, também, o Brechó Solidário. As roupas obtidas em doação foram cedidas, primeiramente, para as famílias atendidas e, depois, o brechó foi aberto para toda a comunidade local.

Durante a semana, recebemos um povo multicultural, advindos ora da região do Belenzinho, ora das adjacentes do bairro, as pessoas, na entrada da porta, não acreditavam que as roupas estavam sendo doadas e, em alguns casos, presenciamos diversas emoções que uma atitude tão simples pode causar no outro.

Um homem, aparentemente de uns 55 anos, entrou, deu-nos bom dia e falou:

– Posso entrar?

Respondemos:

– Sim.

Após o procedimento de higienização das mãos com álcool em gel, ele adentrou ao espaço, andou, olhou, parou, e, próximo ao bebedouro, falou:

-Olha, eu vi, mas eu não quero nenhuma roupa. Hoje eu quero uma oração. Preciso ter paz. Isso mesmo – disse o homem com lágrimas nos olhos – quero uma oração.

Aproximando-nos, conversamos com ele. Em seguida, fizemos a oração do Pai Nosso, desejando, assim, que seus caminhos fossem regados de amor, esperança e fé. Ele foi embora nos agradecendo pelo momento de escuta e de comunhão.  Fazendo nos viver o Evangelho, segundo Mateus 4:4: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus'”.

Tivemos a oportunidade de ser ponte e realizar, além das entregas das doações, o lugar do encontro, da acolhida, da escuta e do auxílio que, muitas vezes, procuramos.