Na terceira semana os alunos de 5º a 9º Ano fizeram a leitura e reflexão sobre: A Internet aproxima ou distancia as pessoas que estão em nossa casa?

Fica como sugestão de leitura para as Famílias debaterem com seus filhos.

 

16 DE AGOSTO

TEXTO III:

Relacionamento familiar:

A internet aproxima ou distancia as pessoas que estão na nossa casa?

Wellington Carvalho de Souza

 

— “Filho, desliga lá o fogo da panela de pressão, por favor?”
— “Calma aí, mãe! Tô mandando uma mensagem pra Aline!”
— “Vai rápido, senão o feijão queima. Eu estou esperando seu tio me atender no Skype!  E já vou avisando: nada de usar o celular durante o almoço, tá? Muito menos na hora de dormir.”
Esse tipo de conversa evidencia uma verdade: sem dúvida, a internet vem interferindo na forma como nos relacionamos. E aqui não falamos somente do surgimento de abreviações e novas gírias, a exemplo de “vc”, “brinks”, “flw”, entre outras, como tratamos em uma matéria sobre internetês. Mas principalmente sobre como as relações em família têm sido afetadas.

Imagine uma casa em que os adultos saem cedo para ir trabalhar, as crianças e jovens vão para a escola. Depois de um dia inteiro de muitas atividades para todos, eles se juntam na sala ou durante o jantar. Mas, estar junto ali, fisicamente, não mais implica em diálogo. Cada um pega o seu smartphone e parte para o espaço virtual, seja em conversas pelo Facebook WhatsApp, nos jogos on-line e tantas outras possibilidades no tablet. Será que esse tipo de situação causa algum prejuízo às pessoas ou é apenas mais uma maneira de se viver? A tecnologia está realmente aproximando ou afastando elas?

Pensando nisso, o Portal Boa Vontade conversou com a psicóloga Maria Helena Marzabal Paulino, que é integrante da Associação Brasileira de Terapia Familiar (ABRATEF). De acordo com a especialista, às vezes o afastamento dos familiares não é responsabilidade apenas da tecnologia, mas também uma consequência do grau de união e intimidade que eles compartilhavam antes dela chegar: “Há uma pré-disposição”. Se o afeto e o cultivo de outros bons sentimentos não forem bem valorizados, possivelmente a tecnologia favorecerá um “distanciamento maior, propiciando um isolamento entre os membros da família. Ou seja, cada um fica circunscrito ao seu espaço virtual”, explica.

Atividades sem movimento não fazem tão bem quanto àquelas que mexem com o corpo, como pega-pega, esconde-esconde, futebol, e muitas outras. Isso porque os pequenos precisam brincar e gastar a grande quantidade de energia que têm. Imagine uma criança com apenas quatro anos que já utiliza o tablet melhor que muita gente. De acordo com Maria Helena, “uma criança dessa idade está iniciando o seu processo de socialização. E pra isso, ela precisa ter contato presencial com outras crianças. Ela precisa ter uma atividade psicomotora para se desenvolver bem do ponto de vista físico. Ela não pode ficar presa à atividade virtual. Há necessidade da criança de brincar, se socializar; de ter uma relação afetiva de toque. O virtual desenvolve alguns aspectos positivos dela, como os intelectuais, porém empobrece os relacionamentos sociais”. Ter a relação com os pais enfraquecida é um grande risco para a vida da criança ou do jovem. De acordo com a mais recente Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dentre outras razões, a falta de diálogo entre as famílias favoreceu com que 70% dos brasileiros não supervisionem os deveres de casa das crianças, mais de 40% não saibam o que elas fazem no tempo livre e 25% desconheça que o filho tenha faltado às aulas. Essa falta de interação sobre a rotina dos filhos ainda é brecha para grandes malefícios; quando restritas às atividades on-line, os mais novos não desenvolvem suas habilidades de relacionamento interpessoal e ficam expostos a crimes virtuais, como a pedofilia, e aos perigos ocultos da internet.

Por isso, a terapeuta familiar alerta: “Se de um lado a internet permite uma ampliação da construção do seu ‘eu’ [pelo rico conhecimento que fornece], você precisa do contato presencial para ter uma boa evolução. Existe uma linguagem visual, existe uma linguagem da afetividade e tudo isso é muito importante para a saúde mental”. Na ocasião, a especialista ainda falou sobre a importância de conviver pessoalmente com quem está ao nosso redor:

“Uma família sem diálogo, onde não há comunicação apesar de estarem juntos, é uma situação extrema de solidão no grupo familiar.Muitos têm compulsão pela internet. A pessoa não vive sem ela e se isola do mundo presencial, acabando até em quadro depressivo”.Do ponto de vista das relações familiares, tanto pode ser uma ferramenta utilizada para aproximar mais os indivíduos, como gerar um distanciamento maior. Por isso, o uso da internet necessita ser equilibrado, mas não proibido.”

 

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