Monólogos dos 8ºs anos

“Ser ou não ser? Eis a questão”. Há cerca de quinhentos anos o teatrólogo mais famoso do mundo cunhou tal expressão que é utilizada até hoje – dando origem, inclusive, a uma reflexão antropofágica da geração modernista brasileira de 22 – e repetida a exaustão em diversos lugares. Essa fala faz parte de um dos monólogos mais emblemáticos já existente. William Shakeaspeare levou seu protagonista e o público a refletir sobre a capacidade (ou incapacidade) do ser humano na célebre “Hamlet”. É exatamente esse o objetivo de um monólogo: a reflexão carregada de sentimentalismo e vivências pessoais.

Como parte do processo avaliativo, os alunos dos 8ºs anos escreveram seus próprios monólogos com tema livre e refletiram sobre a efemeridade do mundo. A seguir, alguns dos textos produzidos e que foram selecionados para a primeira edição do projeto (Entre)Linhas. Parabéns a todos e todas!

 

Profundeza

Sou como um oceano, imenso, confuso, agitado, porém vazio. Até eu conhecer alguém, alguém que me faça encher e transbordar.                    

Enquanto eu me afogo por esse alguém, ele brinca de molhar os pés, em minhas pequenas ondas, que vêm e se vão.

Avista outros oceanos, calmo e tranquilos, e parte, sem avisar, sem dizer adeus.

Então uma tempestade vem e esvazia meu tão frágil oceano, que apesar de confuso poderia se demonstrar calmo e claro.

Mas você foi embora, antes mesmo de conhecer minhas profundezas. Se posicionou à beira-mar e me observou esvaziar, enquanto eu lhe observei a partir e conhecer novos mares.

Gabriela Praxedes Neves – 8°1M

 

 

Memórias

Eu ainda me lembro da primeira vez que me senti insuficiente, mas não me recordo da primeira vez em que ri ou chorei, e isso me faz ver quão horrível a vida ou o mundo podem ser.

Quer dizer, sou uma pessoa em mais de sete bilhões, e ainda assim me sinto sozinha. É ridículo, claro que é, pois, olhe ao meu redor, veja tudo o que tenho.
Minha vida é um ciclo, onde faço o que esperam de mim: respiro e coloco um sorriso no rosto.

As pessoas hoje em dia pensam que os gestos que fazemos são o que sentimos. Alguns gestos foram criados apenas para esconderem sentimentos, como uma máscara em dia de carnaval.

E o pior é que ninguém se importa, muito menos lembra, todos esses momentos serão perdidos, pois estão gravados apenas na memória, que também se desintegra com o tempo.

A memória é a pior droga que o homem pode experimentar, pois quando lembramos, imaginamos tudo o que poderia ser feito e tudo o que foi perdido, e isso nos assombrará para sempre.

Todos cairemos no esquecimento eventualmente, mas acredito que somos responsáveis por saber quem se lembrará de nós.

Pietra Mutti Novo – 8°1M

 

Sentimentos 

Às vezes é difícil lidar com os sentimentos, o formato que o mundo tomou não ajuda essas coisas complicadas do coração.

Muitas pessoas criam uma espécie de capa para tentar se proteger dos temidos sentidos, principalmente do mais complicado dentre todos: o amor.

Talvez por ser o mais forte, o mais impactante e, no fundo, o mais desejado.

Porque por mais que inúmeras capas e bloqueios sejam criadas a fim de se esconder dos sentimentos, não se deixar dominar por eles, o que todos querem realmente é se sentir amado verdadeiramente.

Todos querem sentir as coisas lindas e inesquecíveis que só o amor pode nos proporcionar.

O amor é lindo sim, o que lhe estraga são algumas pessoas que não sabe lidar e confundem o amor com o egoísmo.

Na verdade, o que nos falta é maturidade, maturidade que somente o tempo pode nos dar.

E só assim vamos conseguir lidar com os nossos sentimentos e com o das pessoas que amamos.

Maria Eduarda Capretz de Morais – 8° 1M

 

Morrer  

A morte é algo muitas vezes natural, geralmente sem intervenção do ser humano, algo que se tiver de acontecer, vai acontecer.

Na reflexão sobre a morte, as pessoas interpretam dois lados: o lado de quem se foi e o de quem perdeu.

As pessoas não aceitamos a morte [sic], não aceitam o sofrimento de perder alguém, verdade seja dita, eu também me incluo nesse grupo, pois seria um disparate e uma tremenda hipocrisia dizer que não sofro. A perda é um sentimento irreparável, que te deixa um vazio, como uma doença degenerativa que vai degradando seus sentimentos até não sobrar mais nada.

O que muitas pessoas não entendem é que precisamos seguir adiante, por mais deprimente e doloroso que seja. Precisamos pensar nas pessoas que já se foram como uma força que nos ajudará a seguir em nosso caminho na luta contra os próximos obstáculos.

A vida é uma estrada cheia de pedras nas quais caímos desenfreadamente, mas depende de nós, não nos levantarmos e não superarmos nossa dor, ou ao invés disso, nos levantarmos para honrar todos os nossos entes que se foram.

Gustavo Zotin – 8°3

 

Recíproco 

Eu entendi que nesse mundo tão frio, em que as pessoas só respondem aos estímulos, a reciprocidade é desconhecida. Você faz de tudo para todos, por isso eles ficam perto de ti, riem, brincam, comemoram, mas quando você mas precisa parece que foram sequestrados, fugiram ou simplesmente desapareceram.
Então promete a si mesmo que não se importará com outras pessoas, porém aparece alguém supostamente especial que te trata bem, te ajuda, te consola e adivinha?! Está interessado apenas no que você pode oferecer, jogando fora suas esperanças.
A sociedade nos trata como produtos, achando que pode nos usar até que se canse e, então, jogar fora, afinal, somos produtos.

A falta de amor destrói por dentro, um esfria o outro criando um ciclo infinito… Eu amo, dou carinho, sinto saudades, contudo, em troca disso quero reciprocidade, que vai muito além de sentimentos correspondidos.

Vitória Namonielle – 8°3M

 

E tudo se foi  

1..2..3, acabou. Sem explicação, talvez com aviso prévio, mas muitas vezes não. Acabou. Momentos, sonhos, desejos já se tornam parte do seu passado. As pessoas vão embora, por mais que você queira que elas fiquem. Mudam de um dia pro outro, prometem mil coisas, falam o dobro, mas no final, vão. É como um ciclo (não que seja obrigatório). Ouvi dizer que quando uma promessa é quebrada, milhões de sentimentos são esmagados.

1..2..3, você chora. Chora pela pessoa que se foi, chora pelo bom dia que não terá todas as manhãs, chora por saudade. Sofre e se pergunta o motivo pelo qual aquela pessoa, em que tanto confiava, te decepcionou. Talvez nós conhecemos as pessoas pela maneira como elas saem de nossa vida, e não pela qual entram.

1..2..3, mentira. Você diz que não quer ele de volta. Não quer ele de volta, mas seu coração acelera toda vez que alguém menciona o nome dele. Não quer ele de volta, mas as vezes se pega pensando em um futuro onde ele participa. Não quer ele de volta, mas se questiona ao saber que provavelmente o aceitaria de volta em sua vida. Não quer ele de volta, mas sabe que isso é uma mentira que está contando para si mesma.

1..2..3, você se despede. Se despede dos sentimentos, das conversas, dos momentos. E depois de tudo isso, essa história, ganha um ponto final.

Laura Ferreira – 8°2M

110 do Colégio Puríssimo
3ºs anos na prefeitura!
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